eu sou uma grande apaixonada pela internet. tenho o mesmo gmail há duas décadas, quando ainda era necessário um convite para criar uma conta, e por lá já recebi newsletters, pdfs de livros, participava de listas de discussão e trocava ideias sobre os mil projetos que inventava na adolescência. quando conheci minha esposa, ela me mandava todo dia uma coluna da eliane brum por e-mail, além de livros e links interessantes.
criei meu fotolog quando liberavam um número limitado de novas contas por dia, e tinha que entrar todo dia de madrugada para tentar a sorte. vivi o auge dos blogs, vi o orkut nascer e morrer, vi a ascensão e a queda do facebook. meu primeiro fora foi pelo ICQ, namorei muito pelo msn, e dava umas olhadas curiosas no chat do uol (ainda que fosse muito nova). fui moderadora de fóruns, saía criando site atrás de site, crackeava o photoshop para editar imagens. presenciei o fim do flash, e o crescimento dos conteúdos em vídeo conforme a velocidade das conexões melhorava. minha conta no twitter já pode comprar cerveja e tirar cnh. sou viúva do google reader e até tentei entender o mIrc, mas não me dei muito bem - até hoje não consigo engajar em espaços de conversas coletivas sequenciais, como grupos de whatsapp e discord.
mas também vi a internet ser tomada por algoritmos focados em causar todo tipo de sentimento que interessa ao capitalismo. vivi a degradação dos textos - que passaram a ser escritos para que robôs os leiam e os posicionem em sistemas de busca, e como se não bastasse agora são também escritos por robôs. a inundação de anúncios e “sugestões de conteúdos” em espaços que antes serviam para manter contato com pessoas. e até mesmo as pessoas, dos círculos de amizade e familiares, foram aos poucos entrando na onda da criação de conteúdo, seja para tentar a vida como influencers, seja para tentar sobreviver como profissionais ou com suas microempresas.
tentando escapar um pouco dessa internet ultra-comercial, encontrei refúgio no twitter. ali era o mais próximo da internet das antigas que eu pude encontrar, um espaço que ainda respirava um pouco de autenticidade e postagens descompromissadas. apesar do lado negativo do twitter, estando em uma bolha legal eu era bem pouco impactada pelo chorume da rede.
a partir da compra do twitter por você-sabe-quem, o nível foi abaixando de um jeito que nem preciso me esforçar em tentar descrever. com a monetização, a rede se tornou um looping de tweets que seguiam as mesmas fórmulas prontas para hitar. aos poucos, fui percebendo que eu vivia puta da vida com os absurdos que passava o dia lendo no twitter. faz dois meses que tomei a decisão de desinstalar o aplicativo.
eu já estava me engajando com a indieweb, que descobri quando fazia pesquisas para a criação do meu jardim digital - conceito que descobri lendo uma edição da newsletter tira do papel. relendo esse parágrafo, percebo que a mercantilização das redes nos tirou mais uma coisa muito legal - os links. acompanhar blogs é ter a certeza de que você vai pular de link em link, se aprofundar em assuntos e também ir para lugares novos. hyperlinks são poderosos, por isso as big techs fazem o possível para que eles não sejam usados - elas precisam te prender lá dentro o máximo de tempo possível. até mencionar o nome de outras redes é pecado, passível de punição com a tão temida diminuição do alcance.
eu estava contente com meu blog e meu jardim digital. com a proibição do twitter no brasil, que ocasionou um êxodo direto para o bluesky, eu não estava nem um pouco interessada em uma nova rede comandada por uma corporação, com as mesmas pessoas do twitter, ainda que descentralizada. por melhor que o bluesky possa ser em comparação ao twitter, ele é assim hoje. tenho quilometragem na internet o suficiente pra saber que as plataformas vão sendo estragadas aos poucos.
no meio do surto do bluesky, comecei a ser impactada por gente falando por que o bluesky não é tão legal quanto o mastodon. nas primeiras vezes que ouvi sobre mastodon e fediverso, não entendi nada - agora posso dizer que já entendi um pouquinho, mas ainda tenho muito o que aprender. por algum motivo, eu acreditava que o mastodon era mais parecido com os fóruns, em que você só interagia com pessoas da sua instância. aprendi o que é federação, e lá fui eu em direção a uma nova pequena obsessão. aqui no blog, já fiz a ponte com o fediverse e implementei alguns microformatos, mas ainda estou testando tudo e evoluindo aos poucos.
não vou explicar muito sobre o fediverso, até porque ainda estou aprendendo. mas vou deixar os links que me ajudaram a começar a navegar por esse mundo - espero influenciar mais alguém a conhecer esse novo universo :-)
- kit de boas-vindas ao mastodon - por
@augustocc@social.br-linux.org
- dicas de mastodon para quem veio do twitter - por
@augustocc@social.br-linux.org
- recomendações para quem está chegando ao mastodon - por
@diegopds@bolha.us
- dicas para a galera nova do mastodon - por
@pbaesse@ursal.zone
- bridgy fed - fazendo a ponte entre o fediverso, o bluesky e a web
- the mastodon’s guide to the fediverse
se quiser me dar um oi por lá, estou no @tiffs@ursalzone